A filosofia pode ser, por assim dizer, uma criação exclusiva dos gregos, pois a Filosofia encontrou aí um ambiente um tanto “espiritual” particular e um clima político-cultural favorável. A filosofia possui três fontes na cultura grega.
- Poesia = gosto pela harmonia, pela proporção e pela justa medida e um modo de fornecer explicações remontando às causas, mesmo que em nível fantástico-poético.
- Religião = distinção entre religião pública (Homero e Hesíodo – deuses como forças naturais ampliadas na dimensão do divino, ou como aspectos característicos do homem sublimados) e religião dos mistérios (Orfismo – homem de modo dualista: alma imortal como demônio condenado a viver em um corpo sua tumba). O que agrupam ambas é a ausência de dogmas fixos e vinculantes em sentido absoluto, e de textos sagrados e intérpretes-guardiões desta revelação.
- Condições sociopolíticas = ao criar as primeiras formas de liberdade institucionalizada e de democracia, tornaram possível o nascimento da Filosofia, que se alimenta especialmente da liberdade.
Frente aos constantes questionamentos dos indivíduos sobre a origem e finalidade do mundo, e a necessidade de compreensão de si mesmos, surge a Filosofia, que pretendia dar ao ser humano aparatos para responder a estes questionamentos. O que a difere das demais ciências é o fato de ansiar pela compreensão da totalidade, já que as demais ciências procuram a explicação das partes. A Filosofia propõe-se como objeto a totalidade da realidade e do ser, o qual só poderá ser respondido a partir da compreensão da “natureza”, do primeiro “princípio”, ou do primeiro “por que” das coisas. A filosofia é uma forma de conhecimento que prima pela compreensão da totalidade a partir do uso da racionalidade. Seu caráter é não contentar-se apenas com a coleta de dados e sua interpretação consequente, mas também a busca das causas do fenômeno em estudo. A finalidade da Filosofia é o “puro desejo de conhecer e contemplar a verdade”.
A primeira preocupação elaborada e trabalhada pela Filosofia Ocidental é de ordem cosmológica, por isso, os primeiros filósofos são conhecidos como naturalistas.
| Qual é o princípio? | Como dele derivam as coisas | |
MONISTAS (há um princípio que se encontra ou deduz da natureza) | TALES DE MILETO | É a água | |
ANAXIMANDRO DE MILETO | É o ápeiron | Por separação dos contrários por uma espécie de injustiça | |
ANAXÍMENES DE MILETO | É o ar infinito | Por condensação e rarefação | |
HERÁCLITO DE ÉFESO (Tudo flui; o ser não é mais do que vir-a-ser) | É o fogo-lógos-natureza, símbolo do devir de todas as coisas e da razão-harmonia que governa seus movimentos | Por oposição, nos particulares, segundo harmonia no todo | |
PITAGÓRICOS | É o número e os elementos do número (=limite/ilimite) | Segundo relações harmônico-matemáticas no todo e nas partes | |
XENÓFANES DE COLÓFON | É a terra (mas só para o mundo) | | |
ELEATAS | PARMÊNIDES (O ente é; pois é ser e nada não é) | O ser é o princípio e fora do princípio nada existe | A rigor não existe nenhum principiado (= acosmismo), enquanto o devir testemunhado pelos sentidos não existe |
ZENÃO DE ELÉIA | |||
MELISSO DE SAMOS | |||
PLURALISTAS (há muitos princípios semelhantes ao ser eleático) | EMPÉDOCLES | Os quatro elementos: ar, água, terra e fogo | Por efeito do Amor e do Ódio |
| ANÁXAGORAS | As “raízes” ou homeometrias | Por efeito do movimento impresso pelo Nous |
LEUCIPO (atomista) | Os átomos | Por efeito do movimento do qual os átomos estão naturalmente dotados | |
DEMÓCRITO (atomista) | |||
FÍSICOS ECLÉTICOS (o princípio é o único e deduzido da natureza) | DIÓGENES DE APOLÕNIA | É o ar infinito e inteligente | Por causas finais |
ARQUELEU DE ATENAS |
Após o desenvolvimento dos pré-socráticos, que buscavam explicações racionais para o universo, inicia-se o processo de interesse pelo homem e suas relações políticas (homem e sociedade), essa nova fase é marcada inicialmente pelos sofistas (palavra que significa sábio, porém em detrimento da ação destes tornou-se um termo pejorativo). Estes eram professores e tinham como objetivo o desenvolvimento da argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Tinham como proposta transmitir todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas.
Por assim dizer, os sofistas deslocam o interesse da Filosofia da natureza para o homem, instaurando um novo clima cultural criticando ideias conceituais como a verdade e o bem. Eles consideram a virtude como objeto de ensino, apresentando-se como mestres da virtude. Pode-se dizer que eles são o sintoma de uma aristocracia em crise e da ascensão política de novas classes. O importante é o fato de que os sofistas promovem a mudança de paradigma: do cosmológico para o antropológico.
Nesse plano surge Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.) que nada deixa escrito, mas sua grande contribuição para a Filosofia o torna um marco para toda a História da Filosofia que o concebe como um divisor de águas. Sócrates procurava conversar com todos, velhos ou moços, nobres ou escravos, buscando fomentar o encontro com o saber em seu interlocutor. O procedimento adotado por Sócrates está “sentado”, por assim dizer, na maiêutica que procura fazer emergir da capacidade racional do ser humano o conhecimento, o saber propriamente dito. O processo de Sócrates é conhecido da seguinte forma: ele faz o interlocutor apresentar toda sua argumentação e a partir daí começa a questioná-lo, a “pergunta” insere-se como mecanismo desmistificador, de forma “irônica”, levando seu interlocutor a perceber a falha de arguição e consistência que possui. E começa a fomentar o seu interlocutor a produzir um conhecimento sobre dado conceito, levando-o ao exercício do pensar e construir saberes. Os principais temas abordados por Sócrates em sua interlocução estão fundados sobre a questão moral (a justiça, a liberdade, etc.). O processo maiêutico procura libertar a alma humana de preconceitos teoréticos, libertando-a da ignorância. Para Sócrates a palavra é o que dá sentido e significado a algo, por meio de um conceito. Vale lembrar que este posicionamento questionador de Sócrates, levou-o até o cálice de cicuta, pois foi acusado de corromper a juventude.
A seguir de Sócrates tem Platão (428 a.C. – 347 a.C.), seu discípulo que continua o trabalho de seu mestre, e sua principal contribuição a História da Filosofia é ter construído um dos primeiros sistemas filosóficos que busca explicar o fenômeno do conhecimento. Porém a finalidade do conhecimento está em voltar à prática e orientar a ação moral dos indivíduos. O dualismo é a característica predominante do pensamento platônico. Existem dois mundos: um inteligível (mundo das Ideias – essências eternas, divinas, imutáveis das coisas) e o sensível (produzido pelo Demiurgo, o artífice soberano, plasmando a matéria informe à imagem das Ideias). Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas. Ao contrário das coisas deste mundo, cópias das Ideias, na alma humana reaviva-se a lembrança das Ideias que haviam sido contempladas numa vida anterior (mito da caverna).
Também a concepção política de Platão é ideal e fundamenta-se na divisão das tarefas e dos trabalhos entre as classes de trabalhadores, guerreiros e magistrados, que correspondem às almas concupiscíveis, irascíveis e racionais do indivíduo. Pela harmonia entre as três classes, nasce o alcance do Bem, do Justo e do Verdadeiro.
A seguir de Platão tem-se a elaboração de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) que propõe uma visão de mundo um pouco diversa da de Platão, concebendo o mundo como um sínolo (junção de matéria e forma). Aristóteles foi o primeiro a elaborar um sistema completo de lógica. Opondo-se ao idealismo platônico, demonstrou que as ideias não podem existir separadas das coisas, mas são nelas imanentes. E a relação entre coisa e ideia altera-se em relação de matéria e forma: a primeira é potencia pura; a segunda, determinação em ato.
A realidade é unidade de matéria e forma. O devir das coisas procede do transito da potencia ao ato. Somente Deus é Ato puro, único, eterno. O homem, como todos os seres, é constituído de matéria e forma: a matéria é o corpo; a forma, a alma, que é dotada de três funções: vegetativa, sensitiva e intelectiva. Segundo Aristóteles, a felicidade do homem consiste na atividade da razão por meio do exercício das virtudes dianoéticas, ou do intelecto, e as virtudes morais.
REFERÊNCIAS:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus, 1980.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003.
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