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Filósofo: Aprenda da Coruja!

Filósofo: Aprenda da Coruja!
Filosofar é alçar voo sobre a realidade e contemplá-la!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A experiência do filosofar como horizonte do ensino

Pensar a questão do ensino na contemporaneidade é convite a pensar a construção de espaços de formação, que preparem os indivíduos envoltos pelo processo escolar em sua inserção social. Aqui se deve entender que a sociedade contemporânea, antes de tudo, exige dos indivíduos que a compõe, uma postura de corresponsabilidade pela estrutura que esta compõe. Assim sendo, é compreensível o dado de que muitos dizem ser a sociedade constituída por indivíduos onde cada um possui um papel, sua parcela de responsabilidade com a manutenção social. Desse modo, a escola surge como ambiente de formação de indivíduos para a sociedade.

A instituição-escola, nos países industrializados e socialmente mais avançados, caracterizou-se por um papel social cada vez mais central e por uma organização cada vez mais aberta, cada vez mais capaz de colocar-se em sintonia com uma sociedade em transformação através da prática das “reformas” [...] (CAMBI, 1999, p. 625).

O que é necessário, portanto, para a educação contemporânea senão refletir o papel da escola e das disciplinas que compõe seus currículos? Possibilitar um estudo sério, e que esteja interessado na formação dos indivíduos imersos no processo de ensino-aprendizagem, é o compromisso primeiro e último da educação. É importante também salientar que a educação não é meramente o exercício de fazer acontecer uma aula, em sala de aula, por um período determinado por leis. A educação vai muito além da aula, incluindo em si uma formação continuada dos indivíduos no seu cotidiano.

Por educação nós vamos designar o processo ligado à etimologia da própria palavra. Educação é a palavra que vem do latim, de duas outras: e ou ex, que significa de dentro de, para fora; e ducere, que significa tirar, levar. Educação significa, pois, o processo de tirar de dentro duma pessoa, ou levar para fora duma pessoa, alguma coisa que já está dentro, presente na pessoa [...] (GUARESCHI, 2007, p. 100).

A Filosofia se insere no contexto escolar atendendo essa demanda que a educação exige: preparar o indivíduo para sua ação no meio social. O problema que aí se insere, está diretamente relacionado com as possibilidades encaradas pela disciplina nos currículos escolares. Essas possibilidades não configuram problemas, nem dificuldades à Filosofia, mas sim um pré-conceito que advém da carga histórica que a mesma possui, quando se fala na questão de resolução de problemas cotidianos. Tal disciplina é encarada como o “messias” da educação, e cabe a ela o papel de “salvar” toda a escola do “caos”, prenunciado pela fragmentação e estagnação do ensino, tanto em áreas do conhecimento como nas disciplinas, que focam seus estudos e discussões naquilo que apenas lhes interessam.

Atualmente o ensino vem encarando o desafio de criar e possibilitar estratégias para a interrelação entre os diversos saberes e conhecimentos, articulando-os como parte de um todo fragmentário, onde cada uma trata de uma saber específico. Isso caracteriza a tendência de falar da união do diverso e separado. Soa redundante e pleonástico, porém é uma realidade que vem sendo encarada, fruto de uma educação que prima pela especialização. A Filosofia vem encarando a tarefa de ser aquela que irá “tentar”, trabalhar a possibilidade de unir as diferentes formas de saber, a fim de criar o conhecimento da realidade que está dada.

Porém, o desafio que desponta já no amanhecer do século XXI para a Filosofia, trata-se de ser aquela que produz um conhecimento transversal, diferindo das tentativas multi e interdisciplinares. O projeto da inserção da Filosofia na educação é fomentar a construção de uma espaço onde os que são envolvidos pelo processo de ensino-aprendizagem, busquem sua formação de forma integral e autônoma. Esta é a grande contribuição que a Filosofia pode dar à estrutura escolar, fomentando a construção de espaços onde o conhecimento produzido esteja interligado com as diversas áreas do conhecimento, e contendo em si o dado da transformação social do conhecimento.

Além de favorecer a integração das várias áreas de conhecimento, a Filosofia pode dar uma contribuição específica para esse novo ensino médio, na medida em que seu papel no desenvolvimento da autonomia, da capacidade crítica e na formação ética está ligado diretamente à sua natureza argumentativa e à sua tradição histórica. Cabe à Filosofia a capacidade de análise, de reconstrução racional e de crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de textos e argumentos propostos de qualquer tipo e emitir juízos acerca deles é um pressuposto indispensável para o exercício da cidadania [...] (SEC/RS, 2010, p. 117).

A Filosofia deve se tornar aquele espaço de construção do conhecimento crítico sobre a realidade social em que o indivíduo está inserido, contribuindo na construção do caráter humanitário do mesmo. Pode-se dizer de passagem que o próprio ser humano depende do tornar-se humano para sair do conceito de indivíduo, apenas, e tornar-se pessoa, que significa não pertencer apenas à espécie humana, mas também ter características de humano, sendo as principais a autoconsciência e a capacidade crítica.

No decorrer da História é possível encontrar a Filosofia sendo um instrumento que auxilia o ser humano na sua construção da realidade e de si mesmo.

“É importante dizer que a trajetória histórica da Filosofia criou um conjunto de significados que procuram interpretá-la, compreendê-la, fundamentá-la, justificá-la como horizonte apropriado para a construção de sentidos tanto para si própria quanto para a ciência e para a atribuição de um propósito a existência humana no mundo [...]” (GHEDIN, 2008, p. 36).

Assim, a Filosofia é aquele momento do ensino onde tanto alunos como professores são convocados a fazer e ser a diferença no processo educacional. Transcendendo a simples aula de Filosofia, que se preocupa com estudos de temas relacionados com a realidade, e indo a busca da compreensão do próprio sentido de “Ser” pessoa e realidade na existência cotidiana. Isto é possível quando o espaço tornar-se propício a construção da experiência do filosofar autônoma e criticamente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SAINDO NOVA EDIÇÃO DO CURSO DE EXTENSÃO

Olá pessoal,

Já notificado, em breve estaremos com uma nova edição do Curso de Extensão em Filosofia de formação docente, deem uma olhada!


TEMA PARA DEBATE: Chega de educação progressista

Fala-se e escreve-se, o tempo todo e em toda parte, que o Brasil está em vias de se tornar uma das potências dominantes do cenário global – mas tais previsões costumam vir acompanhadas de uma condicional: se quisermos chegar lá, teremos de investir em educação.

É aqui que o leitor se pergunta: mas já não estamos investindo em educação? Para onde vão os 25% do orçamento que todo gestor público tem a obrigação legal de destinar a essa área?

Depois de passar sete anos acompanhando, como professor, o cotidiano da escola pública, posso afirmar que o principal problema do nosso ensino não é falta de verbas, mas falta de rumo. E ouso levantar uma questão que tem sido pouco discutida: a educação brasileira só é tão ruim por ser “boa demais”, pelo menos no papel.

Se tomarmos os textos das leis que norteiam o ensino no país ou os regimentos das secretarias municipais e estaduais de Educação, se lermos as ementas das disciplinas dos cursos de Pedagogia ou se ouvirmos o que é debatido em seminários de educadores, choraremos de emoção e teremos a sensação de que nossas escolas são o melhor dos mundos.

Tais textos, geralmente redigidos em prosa poética, estão repletos de belas expressões como “inclusão”, “gestão democrática”, “construção do conhecimento”, “leitura da realidade”, “libertação dos oprimidos”, “formação do ser humano integral”. Os arautos da corrente que hoje domina a intelligentsia educacional brasileira, e que chamam a si mesmos de “progressistas”, defendem esses princípios com fervor quase religioso e travam uma luta de vida e morte contra o paradigma anterior, que rotulam como “educação tradicional”.
A educação tradicional, aquela em que a maioria dos brasileiros com mais de 25 anos foi alfabetizada, foi demonizada. “Tradicional” tornou-se um xingamento. Ao assumir o comando dos órgãos que cuidam da educação no país, lá pelo fim da década de 80, os novos timoneiros identificaram o paradigma então vigente com o autoritarismo da ditadura e trataram de exorcizar as escolas das práticas tidas como “tradicionais” e “autoritárias”: a transmissão de conhecimento de um professor que sabe para um aluno que não sabe, a reprovação dos alunos que não aprendem, a memorização pela repetição, o bê-á-bá, a exaltação dos que tiram boas notas.

Desde então, evita-se ao máximo reprovar, pois isso “traumatiza” o aluno. A repetição da tabuada e os ditados para fixar a grafia das palavras também são evitados, pois “deformam a consciência”. Os currículos escolares foram permeados de atividades lúdicas e recreativas, destinadas a estimular a aceitação e a “inclusão”.

Você concorda que o avanço na educação depende de uma volta ao tempo em que o conhecimento era transmitido de forma tradicional?


O resultado, duas décadas depois, é que milhões de analfabetos funcionais saem das escolas públicas, todos os anos, com certificados de conclusão embaixo do braço. No seu afã de conscientizar e libertar os oprimidos, a educação progressista os condenou à escravidão da falta de qualificação. Vivendo num mundo de faz de conta onde a interação social é mais importante que o conteúdo, os “libertadores” não percebem que a verdadeira libertação é ter condições de ser selecionado para um bom emprego, de ser aprovado no vestibular, de passar em um concurso público, e isso é negado à maioria dos alunos das escolas públicas.

O avanço de que necessitamos para abraçar o nosso destino de potência global se assemelha mais, por paradoxal que seja, a um retrocesso, uma volta ao tempo em que o conhecimento era medido e aplicado, os professores eram respeitados e valorizados e os alunos só eram aprovados se aprendessem.
* Filósofo e Jornalista


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