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Filósofo: Aprenda da Coruja!

Filósofo: Aprenda da Coruja!
Filosofar é alçar voo sobre a realidade e contemplá-la!

sábado, 12 de março de 2011

O problema do ensino na Filosofia Contemporânea


O problema do ensino de filosofia perpassa no período contemporâneo por um caminho permeado pelo problema da educação. Por isso se faz necessário aqui estabelecer um momento de diálogo e breve reflexão sobre os principais pontos que influenciam a presente constituição do ensino, buscando resgatar o positivismo e o socialismo, buscando salientar algumas de suas imbricações na contemporaneidade, pois após o Iluminismo, dentro da sociedade burguesa, tomam forma duas forças antagônicas a partir do final do século XVIII. De um lado, o movimento popular e socialista, e de outro, o movimento elitista burguês. Estas duas correntes chegam ao século XIX sob os nomes de Marxismo e Positivismo. Mas outra forma de pensamento desponta da junção e reestruturação da metafísica clássica: Fenomenologia e Existencialismo.

PENSAMENTO ILUMINISTA

Caracterizado pelo apego à racionalidade e à luta em favor das liberdades individuais, contra o obscurantismo da Igreja e prepotência dos governantes.

ROUSSEAU: A educação não devia ter por objetivo a preparação da criança com vista ao futuro nem a modelação  dela para determinados fins: devia ser a própria vida da criança. Mostrava-se contrario à educação precoce. Era preciso ter em conta a criança, não só porque ele é o objeto da educação – o que a pedagogia da essência também se dispunha a fazer – mas porque a criança representa a própria fonte da educação.

HEGEL: Há a oposição ao subjetivismo e intucionismo, tendo o real como razão e história. A grande contribuição de Hegel para a aprendizagem é seu sistema dialético (tese+antítese=síntese), no qual ele vê a “mola” do real, pois é partir deste ciclo constante que a História humana se constrói. Outro fator de igual importância é a autoconsciência filosófica que é tida como finalidade da história do mundo, por meio de sua estruturação dialética. Para ele a educação é um humanismo integral, onde o homem é visto como um desenvolvimento dialético. O desenvolvimento da consciência passa da naturalidade à objetividade do espírito mediante um contato cada vez mais rico e amplo com a realidade histórico-social, que se torna a “segunda natureza” do homem. Nesse processo o ponto de chegada é constituído pela realização de uma síntese harmônica entre o eu e o mundo histórico, atingido pela vontade de ligar-se ao plano da ética social, na participação da vida cultural e reconhecimento do trabalho como atividade especifica do homem enquanto gênero. O homem só reconhece a si mesmo no vinculo com a realidade histórico-social (como cultura e civilização). O homem precisa sair de si e mergulhar na objetividade histórica. O homem alheia-se a si e estranha-se na realidade, superando o seu próprio ser natural, e participa da experiência da humanidade em geral. Assim, o aprendizado deve ser entendido como dura disciplina, como superação do educar pelo pensar e pela produção autônoma. O habito é o mecanismo central da educação. o homem integralmente é formado e caracterizado pela harmonia entre natureza e razão; a formação humana se dá por meio do contato com a cultura.

O PENSAMENTO POSITIVISTA

Nesta perspectiva busca consolidar-se a concepção burguesa de educação, onde o homem é visto e compreendido conforme modelos sociais, ou seja, a identidade do indivíduo está diretamente ligada ao equilíbrio da sociedade, assumindo este um papel de parte funcional da mesma. Para o positivismo, o educar está ligado com a necessidade de preparar a pessoa para a conformação, socialização e integração na sociedade, de forma a torna-la socialmente produtiva. O principal valor orientado por este sistema de pensamento é de que a pessoa deve ser regulada – in interiore homini – pelo cosmo de valores sociais (políticos-ideológicos = econômicos e éticos): participação e produtividade.

Os principais expoentes desta forma de pensar sobre a educação foram:

COMTE: Possuía uma forma de ver a evolução da humanidade a partir de três estados: teológico, metafísico e positivo. É a partir desta perspectiva que ele deduz um sistema educacional, onde estes três estados são vistos como fases que todo ser humano deverá passar, ou reproduzir em sua vida na construção das ciências. Na 1ª fase – infância – aprendizagem sem caráter formal. Aqui há a transformação do fetichismo natural inicial numa concepção abstrata de mundo. Na 2ª fase – adolescência – haveria o adentramento no estudo sistemático das ciências. Aos poucos o homem na idade madura chegaria ao estado positivo passando do metafísico. Não mais abraçaria a religião de um Deus abstrato, mas a da Humanidade, o Grande Ser. A educação seria o caminho para a solidariedade humana. Porém o problema que ocorreu ao sistema de Comte é o fato de que as crianças não imaginavam explicações de forças divinas para reger o mundo, nem jovens mostravam afeto pelas abstrações metafísicas. Mas a grande contribuição de Comte para a educação é o fato de que as ciências tanto da natureza quanto humanas deveriam se afastar de qualquer preconceito ou pressuposto ideológico. A ciência precisava ser neutra, pois leis naturais, em harmonia, regeriam a sociedade. Assim, o positivismo seria a doutrina que consolidaria a ordem pública, desenvolvendo nas pessoas uma “sábia resignação” ao seu status quo.

SPENCER: Buscou saber que conhecimentos realmente contavam para os indivíduos se desenvolverem. Concluiu que os ensinamentos adquiridos na escola necessitavam possibilitar uma vida melhor com relação à saúde, trabalho, família, para a sociedade em geral. A tendência cientificista na educação continuava, mas a introdução das ditas ciências no currículo escolar ocorreu vagarosamente, resistindo à dominação da filosofia, da teologia e das línguas clássicas. A tendência cientificista só tomou força a partir do desenvolvimento da sociologia em geral e da sociologia da educação. Afinal, o positivismo negava a especificidade metodológica das ciências sociais em relação às ciências naturais, identificando-as.

DURKHEIM: Educação como imagem e reflexo da sociedade, sendo um fato fundamentalmente social, dizia ele. Para ele a sociedade pode ser comparada com um animal: possui um sistema de órgãos diferentes, onde cada um desempenha um papel específico. Alguns órgãos seriam naturalmente mais privilegiados que outros. Esse privilégio, por ser natural, representaria um fenômeno normal, como em todo organismo vivo onde predomina a lei da sobrevivência dos mais aptos e a luta pela vida, em nada modificável. Esse conjunto de ideias revela o caráter conservador e reacionário da tendência positivista na educação. Vale aqui ressaltar que Durkheim opõe-se a Rousseau quando afirma que o homem nasce egoísta e só a sociedade, através da educação pode torná-lo solidário. Por isso, a educação é uma ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontravam ainda preparadas para a vida social.

ENFIM, o positivismo previa a substituição da manipulação mítica e mágica do real pela visão científica, estabelecendo uma nova fé, a fé na ciência, que subordinou a imaginação científica à pura observação empírica. Seu lema sempre foi “ordem e progresso”, pois para progredir é necessária ordem, e, mesmo a pior ordem é sempre melhor que a desordem.

O pensamento socialista

Formou-se no seio do movimento popular pela democratização do ensino, propondo uma educação igual para todos. A chave de leitura para esta perspectiva de educação é o fato de que a sociedade é livre, bem como o homem, sendo, enfim percebível que a convivência social não depende da organização de um organismo, propriamente dito, mas de uma comunidade. Assim, a educação assume o papel de ser aquele meio que levará o indivíduo a liberdade consciente e autônoma, e por fim a sua emancipação. É importante salientar aqui na visão socialista de sociedade ainda se prevê a existência do trabalho, porém ele é visto sobre uma ótica diversa daquela apresentada pelo positivismo: o trabalho é visto como algo livre e consciente. O que leva a construção de uma sociedade sem divisão de classes.

MARX E ENGELS: A problemática educativa foi colocada de modo ocasional e fragmentário em suas obras, mas sempre no contexto da crítica das relações sociais e das linhas de sua modificação. Para eles a educação deve ser pública e gratuita para todas as crianças, segundo estes princípios: 1º eliminação do trabalho delas nas fabricas; 2º associação entre educação e produção material; 3º educação politécnica que leva à formação do homem omnilateral abrangendo três aspectos: mental, físico e técnico, adequados à idade das crianças jovens e adultos; 4º inseparabilidade da educação e da política, portanto, da totalidade do ser social e da articulação entre tempo livre e tempo de trabalho, isto é, trabalho, estudo e lazer. Pode Marx concordar com o trabalho infantil, mas este deve ser regrado cuidadosamente (9 a 12 anos = 2h de t/dia; 13 a 15 = 4h de t/dia; 15 a 17 = 6h p/dia). Uma questão muito interessante apontada por Marx é: “Devemos mudar a educação para alterar a sociedade, ou a transformação social é a primeira condição para a transformação educativa?” De um lado seria necessário mudar as condições sociais para se criar um novo sistema de ensino; de outro, um novo sistema de ensino transformaria as condições sociais. Para o desenvolvimento total do homem e a mudança das relações sociais, a educação deveria acompanhar e acelerar esse movimento, mas não encarregar-se exclusivamente de desencadeá-lo, nem de fazê-lo triunfar.

GRAMSCI: Evocava a ideia de uma escola para a unidade e centralização democrática. Gramsci propunha uma escola crítica e criativa, devendo a mesma ser clássica, intelectual e profissional. Afirma que a coação e a disciplina são necessárias na preparação de uma vida de trabalho, para uma liberdade responsável. A disciplina para ele é assimilação lúcida da diretriz a ser realizada. É importante salientar que para Gramsci, a escola deveria ser única, estabelecendo-se uma primeira fase com o objetivo de formar uma cultura geral que harmonizasse o trabalho intelectual e o manual. Na fase seguinte, prevaleceria a participação do adolescente, fomentando-se a criatividade, a autodisciplina e a autonomia. Depois viria a fase de especialização. Nesse processo tornava-se fundamental o papel do professor que devia preparar-se para se dirigente e intelectual. O desenvolvimento do Estado comunista se ligava intimamente ao da escola comunista: a jovem geração se educaria na prática da disciplina social, para que a realidade comunista se tornasse um fato.

Pensamento fenomenológico existencialista

Na perspectiva apontada por essa corrente tem a preocupação em compreender a educação ligada com a antropologia. Há a investigação do que é empírico no homem e a educação é vista como ação que desenvolve no indivíduo o que é na sua essência verdadeira. A filosofia existencialista provoca um grande movimento de renovação da educação, pois agora esta consiste em afirmar a existência do indivíduo aqui e agora. É importante lembrar que a existência do ser humano não é igual à de outra coisa qualquer, pois está em constante formação, o constante sendo; não é estática. Assim, o homem precisa se decidir, escolher, comprometer-se, precisa encontrar-se com o outro. A fenomenologia contribuiu para recolocar na educação a preocupação antropológica. Fenômeno é o que se mostra, o manifesto. Portanto, a fenomenologia preocupa-se com o que aparece e o que está escondido nas aparências, uma vez que aquilo que aparece nem sempre é, mas a aparência faz parte do ser. O método fenomenológico procura descrever e interpretar os fenômenos, os processos e as coisas pelo que eles são, sem preconceitos. O pressuposto vital à atitude fenomenológica é aquele em que toda compreensão é uma relação vital do interprete com a coisa mesma. Daí a complementaridade necessária entre fenomenologia e práxis. A fenomenologia desenvolveu principalmente a interpretação de textos.

KIERKGAARD: O indivíduo não se repete, sendo pessoa única, condenada a ser ela mesma, devendo recomeçar perpetuamente uma luta dramática, já que aspira algo de mais elevado do que ela própria.

SARTRE: Preocupação inicial com a salvação individual, chegando, por fim, a defender o socialismo . O homem é absoluto, não havendo nada de espiritual acima dele. Por determinadas condições biológicas, a sua existência precede a essência, o que significa que a criatura humana chega ao mundo apenas biologicamente e só depois, através da convivência, adquire uma essência humana determinada. O homem sofre a influencia não só da ideia que tem de si, mas também de como pretende ser. Esses impulsos orientam-no para um determinado tipo de existência, pois um indivíduo não pode ser outra coisa senão aquilo em que se constitui. Como não há nada superior a ele, sua marcha se depara com o nada.

RICOUER: O homem afirma-se e reconcilia-se com seu mundo, sua unidade. A reconstituição dessa unidade se dá à base do reconhecimento da transcendência, que é o reconhecimento do mistério. O mistério não é incompatível com a clareza e sim torna possível a clareza profunda. Ricouer se ocupa da voluntariedade e do problema do mal, compreendendo-os como fenômenos humanos, enquanto o humano esteja ligado ao mundo e suspenso no transcendente.