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Filósofo: Aprenda da Coruja!

Filósofo: Aprenda da Coruja!
Filosofar é alçar voo sobre a realidade e contemplá-la!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A experiência do filosofar como horizonte do ensino

Pensar a questão do ensino na contemporaneidade é convite a pensar a construção de espaços de formação, que preparem os indivíduos envoltos pelo processo escolar em sua inserção social. Aqui se deve entender que a sociedade contemporânea, antes de tudo, exige dos indivíduos que a compõe, uma postura de corresponsabilidade pela estrutura que esta compõe. Assim sendo, é compreensível o dado de que muitos dizem ser a sociedade constituída por indivíduos onde cada um possui um papel, sua parcela de responsabilidade com a manutenção social. Desse modo, a escola surge como ambiente de formação de indivíduos para a sociedade.

A instituição-escola, nos países industrializados e socialmente mais avançados, caracterizou-se por um papel social cada vez mais central e por uma organização cada vez mais aberta, cada vez mais capaz de colocar-se em sintonia com uma sociedade em transformação através da prática das “reformas” [...] (CAMBI, 1999, p. 625).

O que é necessário, portanto, para a educação contemporânea senão refletir o papel da escola e das disciplinas que compõe seus currículos? Possibilitar um estudo sério, e que esteja interessado na formação dos indivíduos imersos no processo de ensino-aprendizagem, é o compromisso primeiro e último da educação. É importante também salientar que a educação não é meramente o exercício de fazer acontecer uma aula, em sala de aula, por um período determinado por leis. A educação vai muito além da aula, incluindo em si uma formação continuada dos indivíduos no seu cotidiano.

Por educação nós vamos designar o processo ligado à etimologia da própria palavra. Educação é a palavra que vem do latim, de duas outras: e ou ex, que significa de dentro de, para fora; e ducere, que significa tirar, levar. Educação significa, pois, o processo de tirar de dentro duma pessoa, ou levar para fora duma pessoa, alguma coisa que já está dentro, presente na pessoa [...] (GUARESCHI, 2007, p. 100).

A Filosofia se insere no contexto escolar atendendo essa demanda que a educação exige: preparar o indivíduo para sua ação no meio social. O problema que aí se insere, está diretamente relacionado com as possibilidades encaradas pela disciplina nos currículos escolares. Essas possibilidades não configuram problemas, nem dificuldades à Filosofia, mas sim um pré-conceito que advém da carga histórica que a mesma possui, quando se fala na questão de resolução de problemas cotidianos. Tal disciplina é encarada como o “messias” da educação, e cabe a ela o papel de “salvar” toda a escola do “caos”, prenunciado pela fragmentação e estagnação do ensino, tanto em áreas do conhecimento como nas disciplinas, que focam seus estudos e discussões naquilo que apenas lhes interessam.

Atualmente o ensino vem encarando o desafio de criar e possibilitar estratégias para a interrelação entre os diversos saberes e conhecimentos, articulando-os como parte de um todo fragmentário, onde cada uma trata de uma saber específico. Isso caracteriza a tendência de falar da união do diverso e separado. Soa redundante e pleonástico, porém é uma realidade que vem sendo encarada, fruto de uma educação que prima pela especialização. A Filosofia vem encarando a tarefa de ser aquela que irá “tentar”, trabalhar a possibilidade de unir as diferentes formas de saber, a fim de criar o conhecimento da realidade que está dada.

Porém, o desafio que desponta já no amanhecer do século XXI para a Filosofia, trata-se de ser aquela que produz um conhecimento transversal, diferindo das tentativas multi e interdisciplinares. O projeto da inserção da Filosofia na educação é fomentar a construção de uma espaço onde os que são envolvidos pelo processo de ensino-aprendizagem, busquem sua formação de forma integral e autônoma. Esta é a grande contribuição que a Filosofia pode dar à estrutura escolar, fomentando a construção de espaços onde o conhecimento produzido esteja interligado com as diversas áreas do conhecimento, e contendo em si o dado da transformação social do conhecimento.

Além de favorecer a integração das várias áreas de conhecimento, a Filosofia pode dar uma contribuição específica para esse novo ensino médio, na medida em que seu papel no desenvolvimento da autonomia, da capacidade crítica e na formação ética está ligado diretamente à sua natureza argumentativa e à sua tradição histórica. Cabe à Filosofia a capacidade de análise, de reconstrução racional e de crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de textos e argumentos propostos de qualquer tipo e emitir juízos acerca deles é um pressuposto indispensável para o exercício da cidadania [...] (SEC/RS, 2010, p. 117).

A Filosofia deve se tornar aquele espaço de construção do conhecimento crítico sobre a realidade social em que o indivíduo está inserido, contribuindo na construção do caráter humanitário do mesmo. Pode-se dizer de passagem que o próprio ser humano depende do tornar-se humano para sair do conceito de indivíduo, apenas, e tornar-se pessoa, que significa não pertencer apenas à espécie humana, mas também ter características de humano, sendo as principais a autoconsciência e a capacidade crítica.

No decorrer da História é possível encontrar a Filosofia sendo um instrumento que auxilia o ser humano na sua construção da realidade e de si mesmo.

“É importante dizer que a trajetória histórica da Filosofia criou um conjunto de significados que procuram interpretá-la, compreendê-la, fundamentá-la, justificá-la como horizonte apropriado para a construção de sentidos tanto para si própria quanto para a ciência e para a atribuição de um propósito a existência humana no mundo [...]” (GHEDIN, 2008, p. 36).

Assim, a Filosofia é aquele momento do ensino onde tanto alunos como professores são convocados a fazer e ser a diferença no processo educacional. Transcendendo a simples aula de Filosofia, que se preocupa com estudos de temas relacionados com a realidade, e indo a busca da compreensão do próprio sentido de “Ser” pessoa e realidade na existência cotidiana. Isto é possível quando o espaço tornar-se propício a construção da experiência do filosofar autônoma e criticamente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SAINDO NOVA EDIÇÃO DO CURSO DE EXTENSÃO

Olá pessoal,

Já notificado, em breve estaremos com uma nova edição do Curso de Extensão em Filosofia de formação docente, deem uma olhada!


TEMA PARA DEBATE: Chega de educação progressista

Fala-se e escreve-se, o tempo todo e em toda parte, que o Brasil está em vias de se tornar uma das potências dominantes do cenário global – mas tais previsões costumam vir acompanhadas de uma condicional: se quisermos chegar lá, teremos de investir em educação.

É aqui que o leitor se pergunta: mas já não estamos investindo em educação? Para onde vão os 25% do orçamento que todo gestor público tem a obrigação legal de destinar a essa área?

Depois de passar sete anos acompanhando, como professor, o cotidiano da escola pública, posso afirmar que o principal problema do nosso ensino não é falta de verbas, mas falta de rumo. E ouso levantar uma questão que tem sido pouco discutida: a educação brasileira só é tão ruim por ser “boa demais”, pelo menos no papel.

Se tomarmos os textos das leis que norteiam o ensino no país ou os regimentos das secretarias municipais e estaduais de Educação, se lermos as ementas das disciplinas dos cursos de Pedagogia ou se ouvirmos o que é debatido em seminários de educadores, choraremos de emoção e teremos a sensação de que nossas escolas são o melhor dos mundos.

Tais textos, geralmente redigidos em prosa poética, estão repletos de belas expressões como “inclusão”, “gestão democrática”, “construção do conhecimento”, “leitura da realidade”, “libertação dos oprimidos”, “formação do ser humano integral”. Os arautos da corrente que hoje domina a intelligentsia educacional brasileira, e que chamam a si mesmos de “progressistas”, defendem esses princípios com fervor quase religioso e travam uma luta de vida e morte contra o paradigma anterior, que rotulam como “educação tradicional”.
A educação tradicional, aquela em que a maioria dos brasileiros com mais de 25 anos foi alfabetizada, foi demonizada. “Tradicional” tornou-se um xingamento. Ao assumir o comando dos órgãos que cuidam da educação no país, lá pelo fim da década de 80, os novos timoneiros identificaram o paradigma então vigente com o autoritarismo da ditadura e trataram de exorcizar as escolas das práticas tidas como “tradicionais” e “autoritárias”: a transmissão de conhecimento de um professor que sabe para um aluno que não sabe, a reprovação dos alunos que não aprendem, a memorização pela repetição, o bê-á-bá, a exaltação dos que tiram boas notas.

Desde então, evita-se ao máximo reprovar, pois isso “traumatiza” o aluno. A repetição da tabuada e os ditados para fixar a grafia das palavras também são evitados, pois “deformam a consciência”. Os currículos escolares foram permeados de atividades lúdicas e recreativas, destinadas a estimular a aceitação e a “inclusão”.

Você concorda que o avanço na educação depende de uma volta ao tempo em que o conhecimento era transmitido de forma tradicional?


O resultado, duas décadas depois, é que milhões de analfabetos funcionais saem das escolas públicas, todos os anos, com certificados de conclusão embaixo do braço. No seu afã de conscientizar e libertar os oprimidos, a educação progressista os condenou à escravidão da falta de qualificação. Vivendo num mundo de faz de conta onde a interação social é mais importante que o conteúdo, os “libertadores” não percebem que a verdadeira libertação é ter condições de ser selecionado para um bom emprego, de ser aprovado no vestibular, de passar em um concurso público, e isso é negado à maioria dos alunos das escolas públicas.

O avanço de que necessitamos para abraçar o nosso destino de potência global se assemelha mais, por paradoxal que seja, a um retrocesso, uma volta ao tempo em que o conhecimento era medido e aplicado, os professores eram respeitados e valorizados e os alunos só eram aprovados se aprendessem.
* Filósofo e Jornalista


Disponível em:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3261733.xml





terça-feira, 30 de agosto de 2011

Novidades

Olá pessoal, em breve estaremos postando mais coisas para discussão!
Nesse momento discutiremos os seguintes temas:

  • Estudo de conteúdos pragmáticos:
    • Conteúdos X Método;
    • Local da experiência filosófica na sala de aula.
  • Filosofia e cultura humana:
    • Pensamento e linguagem;
    • Trabalho e alienação;
    • Trabalho e lazer.
  • Filosofia e conhecimento:
    • O que é conhecimento?
    • Ideologia;
    • Surgimento da Filosofia: do mito à razão;
    • Reflexão filosófica;
    • Instrumentos do pensar;
    • Teoria do conhecimento.
  • Filosofia e Ciência:
    • Conhecimento científico;
    • O método científico;
    • As ciências humanas.
  • Filosofia e política:
    • Introdução à política;
    • Política na História da Filosofia;
    • Perspectivas políticas: Absolutismo, Liberalismo, Socialismo, Marxismo, Anarquismo;
    • Desvios do poder.
  • Filosofia e ética:
    • Introdução à Filosofia moral;
    • A liberdade;
    • Identidade do sujeito moral: Corpo, Amor, Erotismo, Morte.
  • Filosofia e estética:
    • Criatividades;
    • Introdução conceitual;
    • Arte como forma de pensamento;
    • Funções da arte;
    • Concepções estéticas.
  • Produção de subsídios e oficinas junto à alunos da Educação Básica, no Nível Médio.


Aguardem e confiram!!!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Por que é tão complicado unir religião e ciência?

Atualmente, vive-se numa busca constante, por meio da ciência na busca da verdade. Mas, será que esta é medível cientificamente, por meio de métodos construídos pelas mentes humanas, ou ela precisa de um certo teor de algo além da compreensão humana para ser encontrada pelo homem? Na visão contemporânea, a verdade deve ser provada, e para isto precisa de um método. E, na Idade Média, entre o século V e XV, toda a forma de conhecimento estava baseado em coisas metafísicas, como é o caso da experiência divina.
Em ambas as formas, sempre haverá alguém que não atingirá o conhecimento pleno da verdade, na primeira, por que nem todos terão acesso ao fato de empregar o método; no segundo, haverá aqueles indivíduos que não terão a experiência com o divino, e assim, também estarão privados do conhecimento pleno da verdade. Surgem aí os mediadores do conhecimento, que ao conhecerem algo novo, terão o compromisso de transmitir o que conheceram.

Justamente neste ponto fixam-se a maioria das criticas com relação ao processo de transmissão de conhecimentos na história, se eles foram fiéis ou não. Claro, que em alguns momentos isto não foi tão visível, mas existiu, tanto que, a revolução renascentista, que culminou no iluminismo tem seu embasamento critico e teórico desde meados da dita Idade das Trevas, como ficou conhecido o período em que a Igreja Cristã deteve o maior poder político e econômico da História. Idade das Trevas por que, o conhecimento produzido neste período dirigia-se principalmente para entender as realidades metafísicas, além da experiência física, com a qual tanto se preocuparam os modernos.

Quando os renascentistas começam a pensar de forma mais variada, influenciados por correntes filosóficas orientais, que defendiam a total liberdade do homem quanto às escolhas que fazia, começa então à caçada da Igreja, que por tanto tempo reduzira o homem a submissão de seus interesses. Com esse desejo incontido de liberdade, começam a surgir inúmeras correntes revolucionárias, que viriam a destruir toda a estrutura da Igreja, até então organizada.

Mas, os novos pensamentos que criaram-se não previam regras para guiar, muitas vezes certos atos, e, é que as grandes revoluções são criadas e mantidas. Aqueles que as aceitarem serão poupados, mas os que se rebelarem e não se moldarem nos novos parâmetros, não terão a mesma sorte. Parece-me que a figura opressora ainda está presente, só que de forma muito mais desenfreada e sem limites, já que todos são livres para pensar o que quiserem e fazerem o que quiserem, mas dentro de um padrão, nunca questionando aqueles que os deram a possibilidade de serem “livres”.

A Igreja manteve-se, porém perdeu em grande parte sua influência, já não dizia nada a ninguém, apenas àqueles que aderiram ao seu ideário. Começam as intensas divisões dentro da Igreja Cristã, que fazem com que surja uma reformulação do cristianismo, que entra para a história como Reforma (dos que se separam da Igreja Católica) e Contra-Reforma (por parte da Igreja, para reformular alguns de seus aspectos).
Mas, no próprio pensamento moderno existem inúmeras divisões, sendo a principal delas a divisão de racionalistas x empiristas. O mundo vive uma verdadeira crise de identidades e de significados tudo deve ser revivido e reformulado. Não é mais possível unir nada, tudo agora é guiado para a particularidade, para entender o específico. Não se deve ter mais monopólio, nem pela religião, nem pela ciência, o conhecimento pode ser alcançado por todos, Mas, nunca em plenitude, apenas em parte, por isso o saber especializado.
A ciência continua brigando com a religião com o medo de que a mesma volte a ter muito poder e queira novamente dominar. E, a religião quer que a ciência apenas procure uma forma mais adequada de evoluir e construir conhecimentos, evitando que se percam os mínimos valores da dignidade das coisas. Nem tudo pode ser conhecido pela experiência laboratorial, muitas coisas aliam-se ao estudo da convivência, e outras dependem apenas deste para se formularem. Por isso tudo envolve uma questão de dignidade.

Já que para ser verdade precisa ser provado, que as provas sejam de tal formas verdadeiras, que respondam diretamente a realidade, sem sombra alguma de dúvida, para serem validadas como tais. A religião não é contra a ciência, apenas quer que ela não atue de forma descontrolada, dizendo num primeiro instante que isso é verdadeiro, e logo, em seguida, “opa, estávamos enganados”. O que é, é, e o que não, ou talvez é, não é.

A ciência sempre diz que o seu método não é falho, mas em determinado momento pode chegar a dizer, que o seu instrumento tem uma pequeníssima probabilidade de falhar. Isto já chega, se há possibilidade não é 100% seguro, o resultado obtido empregando o referido método, pode também não o ser. Por isso a necessidade de agir com seriedade em questões que envolvem a dignidade dos seres, em especial, a dos seres humanos.

Exemplificando:

Quando se fala sobre a origem da vida, se ela surge na concepção, após a organogênese, ou ainda, por volta do 4º mês, os cientistas, em especial, ainda não tem um parecer final sobre isto, apenas um “talvez”. Como, então, na visão da Igreja Católica, em especial, se dizer que o aborto ou o uso de embriões em pesquisas com células troncos não seja um atentado contra a dignidade da vida e da pessoa humana? Não se sabe ao certo onde começa, e muito menos onde termina, como ainda alguém, ale, de citar o anteposto, tem a capacidade de dizer que se pode determinar o fim da vida, o momento da morte de alguém.

Se Deus existe ou não existe no momento não interessa, mas o caso é que se está limitando as possibilidades de uma pessoa a uma possibilidade. Por que não “dar mais uma chance”? “Uma nova oportunidade”? Onde está a dignidade da pessoa.

É neste ponto que ciência e religião devem sentar e discutirem juntas. Sem preconceitos, sem armas nenhumas. Vir simplesmente preparados para dialogarem sobre onde reside a dignidade da pessoa humana, e até que ponto se pode determinar o início ou o fim da mesma. E se não for possível determinar o inicio, como ainda será possível determinar o fim; e se não for determinado o fim, como se determinará o início. Parafraseando Aristóteles: “Tudo o que é gerado tem um fim... e tudo o que tem um fim, deve ser gerado”.
A religião pode ter errado em algum momento da história, mas agora ela vem com o anseio de consertar seus erros e poder se redimir para com a humanidade. Ela não quer separação apenas coerência com o que se diz. Se, é defendido um método cientifico onde vale o que melhor guie para a verdade, e que se chegue a mesma. Sem nenhum problema, mas se: por um método se chegar a uma verdade falha, de que adiantará o método. Se, é buscada a verdade, a mesma deve ser encontrada, não valendo aí uma verdade provisória, pois isso seria mentira, a verdade é uma só. Quanto a isso a Igreja Católica nunca errou. Ela sempre procurou a verdade, e nunca poupou esforços para encontrá-la, seus dogmas sempre condisseram com o que ela prega e vive. E, nenhum dogma é criado aleatoriamente, ele precisa ser muito bem estudado e provado.

A Igreja não é contra a ciência, ela quer que a ciência evolua, mas não fique promulgado meias verdades. A verdade só é encontrada na sua totalidade, é preciso compreender então isto. Não buscar conhecer fragmentos, mas o todo do que é estudado. A ciência, também quer conhecer a verdade da realidade no todo, mas precisa retomar a sua essência, que é “conhecer a realidade”.

Guardador de rebanhos


"Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
 Sei a verdade e sou feliz."

ALBERTO CAEIRO

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pensar a educação


Ao parar qualquer professor, principalmente da rede pública de ensino, é possível deparar-se com uma enormidade de problemas que advém de seu cotidiano. São estes quase sempre relacionados com sua prática educacional, sendo que muitas vezes, muitos não compreendem na verdade o sentido do termo educar. Para tanto, ao inicio desta conversa travar-se-á uma conceituação do mesmo procurando explanar alguns elementos essenciais para melhor compreensão e articulação da educação no contexto escolar.

A palavra "educar" provém do latim, e significa conduzir para fora, sendo sua origem: educere (ex = fora; ducere = conduzir para). Mas uma conotação um pouco mais bem elaborada e que pode ser adequada ao contexto e finalidade da escola, é que se pode dizer que a finalidade do educar é conduzir (o indivíduo) para o mundo, o seu exterior propriamente dito, é preparar o individuo para viver em sociedade, como muitos analistas da educação apresentam. Mas, para se conduzir de forma mais adequada e propriamente preparada, é preciso existir uma regra que oriente de certa forma o agir educacional.

Ao pensar no termo “educar”, fundamentalmente, vem em mente a ideia de uma instituição, humana, essencialmente, que abarca em si indivíduos que estão aí para receber e outros para “oferecer” conhecimentos, numa relação dita social. Diferentemente da forma como se vinha pensando o processo educacional, é gritante a necessidade em se perceber no aluno um indivíduo apto a construir conhecimento em si a partir de suas experiências. Igualmente não se pode escarnecer frente à figura do professor, o qual tem por missão orientar a realização do processo de ensino-aprendizagem na construção de conhecimentos dos indivíduos.

Palavra de importância capital no processo ensino-aprendizagem é “oferecer”, pois o professor não é aquele que tem algo a impor ou simplesmente apresentar ao aluno, mas sim tem algo a oferecer, por isso a necessidade de estar capacitado. O impor soa aos olhos e ouvidos de muitos como um sistema de ensino ditatorial, e o apresentar, à alguns soa como o fato de apenas mostrar o que o aluno precisa ver e saber, sem importar-se muito se o aluno vai ou não acolher em si algum conhecimento. Já, o oferecer, guarda em si até mesmo uma mística, um tanto espiritualista, que implica a atenção de quem oferece em “cativar” ao individuo para quem é oferecido.

Claro que, nas atuais relações de mercado em que está inserida a sociedade contemporânea, a educação vem tornando-se uma mercadoria, de valor mui estimável a muitos e um tanto banalizado para outros. Daí a necessidade desta mercadoria, tornar-se a semelhança de um “Cavalo de Tróia”, como daqueles da História grega, contendo em si potencialidades capazes de destruir as barreiras que o aluno tem frente de suas vistas, impossibilitando-o de contemplar a alienação social, na qual lhe “querem” introduzir.

Pensar a educação é imprescindível e urgente. Mas pensar de forma crítica, vendo de fato onde há erros, ou suas potencialização, que podem ocasionar toda a desestruturação de um processo de ensino-aprendizagem, que busca a autonomia dos indivíduos. Tal autonomia só pode ser conseguida pelos indivíduos quando estes, de alguma forma, conhecem além do mundo onde vivem conhecem a si mesmos em sua totalidade e são capazes de serem pessoas mais cientes de si mesmas. Assim, a educação toma um novo valor, recebe uma ressignificação de seus métodos, podendo, enfim, chegar a uma revalidação de si mesma.

O que parece intrínseco ao próprio ser humano é sua mutabilidade frente às evoluções que o mundo e a sociedade consequentemente estão suscetíveis na História. Porém se faz necessário pensar a educação como algo imutável, algo que tem parâmetros fixos, podendo apenas mudar o seu conteúdo e não o seu modo de agir no indivíduo. Porém, este modo deve estar de tal forma elaborado que não possa de nenhuma maneira ser falseado nos momentos históricos quanto a validade de seu processo.

Por isso pensar numa educação onde o individuo seja valorizado e onde ele esteja de tal forma apresentado que sua importância, além de parte edificante da sociedade, seja alguém capaz de pensar novas formas para orientar o agir social, isso é o que caracteriza a autonomia e a conscientização. Não é possível fazer o processo educacional ser organizado de tal forma que leve o indivíduo a ser alguém preso a ideias já prenunciadas por alguns. Se faz necessário formar indivíduos cônscios de sua responsabilidade social, e capacitados para a vida em sociedade de forma ativa e cooperativa. A educação deve, assim, se tornar mais humana e menos tecnicista, evitando cair em tecnicismos, onde o individuo seja orientado a ser nada mais que uma simples e passiva parte do meio social. A educação precisa ser pensada a fim de ser um meio de potencializar os indivíduos à vida em sociedade de forma autentica e autônoma.

Por isso, dir-se-ia que a educação tem uma relevante importância para os indivíduos quanto à potencialização dos mesmos construírem uma consciência de cidadãos. Pois a cidadania prescinde de indivíduos cônscios de sua realidade vivida, e capazes de construírem-se a si mesmos e moldarem ao próprio ambiente em que estão inseridos. A cidadania capacita os indivíduos a serem ativos na sociedade em que estão inseridos e capazes de auxiliarem na construção de uma sociedade cada vez mais humana, e menos mecanizada, que é a tendência moderna de construção social. Precisa-se, enfim, educar indivíduos para uma cidadania que os tornem capazes autonomia frente às decisões tanto de ordem política e, principalmente, pessoais.

REFERENCIAS


SCHÜTZ, Ricardo. WORD HISTORIES: conhecer uma palavra desde sua origem é como conhecer uma pessoa desde pequena. Disponível em http://www.sk.com.br/sk-hist.html, acesso em 10 de novembro de 2009.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia da educação. São Paulo: FTD, 1998.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vídeos sobre História da Filosofia

Abaixo segue uma relação de vídeos sobre História da Filosofia. Confira!


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FILOSOFIA ANTIGA
1. Introdução à Filosofia
http://www.youtube.com/watch?v=Av4HEWYeACk
2. Pré-Socráticos
http://www.youtube.com/watch?v=z5h0u-EIB0I&feature=related
3. Sócrates
http://www.youtube.com/watch?v=wavVlSHDYmA
4. Platão
http://www.youtube.com/watch?v=HoJc-NhkaXQ
5. Aristóteles
http://www.youtube.com/watch?v=xEMCnoRDz04
6. Pirro, Zenão e Epicuro
http://www.youtube.com/watch?v=dvjnGsTFeGY


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FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA
1. Averróis
http://www.youtube.com/watch?v=-oxZzuJ4pfc
2. Santo Agostinho
http://www.youtube.com/watch?v=CiwgSG8fnQY
3. Hipácia de Alexandria
http://www.youtube.com/watch?v=KhkJuwR9jK8
4. Santo Anselmo
http://www.youtube.com/watch?v=HZYGLDPoxg8
5. São Tomás de Aquino
http://www.youtube.com/watch?v=wPF_0y6Tw74
6. Giordano Bruno
http://www.youtube.com/watch?v=wQctpc_Y0Eo


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FILOSOFIA MODERNA
1. Influência de Adam Smith
http://www.youtube.com/watch?v=pn4tRhGmvgk
2. Maquiavel
http://www.youtube.com/watch?v=XDCme8TO0zk
3. Thomas Hobbes
http://www.youtube.com/watch?v=gr74USmzGMY
4. Jean-Jacques Rousseau
http://www.youtube.com/watch?v=ZPmtAwn5Vno
5. Francis Bacon
http://www.youtube.com/watch?v=BclVheECENA
6. Renè Descartes
http://www.youtube.com/watch?v=2oJJ7oA2ywc
7. Emanuel Kant
http://www.youtube.com/watch?v=T1C4Nvikxa0


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FILOSOFIA DA IDADE CONTEMPORÂNEA
Filosofia da Idade Contemporânea: Introdução
http://www.youtube.com/watch?v=SsCJiQiERLo
1. Karl Marx e Luiz C. Prestes
http://www.youtube.com/watch?v=_OkmcCpvfxs
2. Emile Durkheim
http://www.youtube.com/watch?v=QvoDmuc7jXc
3. Positivismo: Augusto Comte
http://www.youtube.com/watch?v=n1QQI2A967Q
4. Millôr Fernandes
http://www.youtube.com/watch?v=3SE66N-S3rc
5. Karl Popper
http://www.youtube.com/watch?v=LTH4mSc_ZPA
6. Emma Goldman
http://www.youtube.com/watch?v=NaGvSt8KkfE
7. Friedrich Nietzsche
http://www.youtube.com/watch?v=99Hu6XVgziA
8. Martin Heidegger
http://www.youtube.com/watch?v=lqhNJqIYM5U
9. Jean Paul Sartre
http://www.youtube.com/watch?v=K0DIMWVEw0Y


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Os link dos VÍDEOS acima citados se encontra neste PROFILE http://www.youtube.com/profile?user=profcelia da Professora Celia Schultz
Campinas, SP, Brasil - Formada na área de humanas, sendo formada em Filosofia na Puccamp, 1993. Extensão em História e Psicologia da Educação. Atualmente efetiva da Rede Pública Estadual de São Paulo. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

ENCONTRO II - Surge a filosofia: os primeiros passos - Elaborado a partir do Estágio Supervisionado I

A filosofia pode ser, por assim dizer, uma criação exclusiva dos gregos, pois a Filosofia encontrou aí um ambiente um tanto “espiritual” particular e um clima político-cultural favorável. A filosofia possui três fontes na cultura grega.
  • Poesia = gosto pela harmonia, pela proporção e pela justa medida e um modo de fornecer explicações remontando às causas, mesmo que em nível fantástico-poético.
  • Religião = distinção entre religião pública (Homero e Hesíodo – deuses como forças naturais ampliadas na dimensão do divino, ou como aspectos característicos do homem sublimados) e religião dos mistérios (Orfismo – homem de modo dualista: alma imortal como demônio condenado a viver em um corpo sua tumba). O que agrupam ambas é a ausência de dogmas fixos e vinculantes em sentido absoluto, e de textos sagrados e intérpretes-guardiões desta revelação.
  • Condições sociopolíticas = ao criar as primeiras formas de liberdade institucionalizada e de democracia, tornaram possível o nascimento da Filosofia, que se alimenta especialmente da liberdade.

Frente aos constantes questionamentos dos indivíduos sobre a origem e finalidade do mundo, e a necessidade de compreensão de si mesmos, surge a Filosofia, que pretendia dar ao ser humano aparatos para responder a estes questionamentos. O que a difere das demais ciências é o fato de ansiar pela compreensão da totalidade, já que as demais ciências procuram a explicação das partes. A Filosofia propõe-se como objeto a totalidade da realidade e do ser, o qual só poderá ser respondido a partir da compreensão da “natureza”, do primeiro “princípio”, ou do primeiro “por que” das coisas. A filosofia é uma forma de conhecimento que prima pela compreensão da totalidade a partir do uso da racionalidade. Seu caráter é não contentar-se apenas com a coleta de dados e sua interpretação consequente, mas também a busca das causas do fenômeno em estudo. A finalidade da Filosofia é o “puro desejo de conhecer e contemplar a verdade”.
A grande descoberta realizada pela Filosofia é a possibilidade de conhecer a realidade e o ser em sua totalidade por meio de uma aproximação racional de conceitos. Tudo o que antes era explicado e explicitado por meio de poesias e mitos precisa ser explicado racionalmente. Há a passagem do saber mítico (alegórico) para o pensamento racional (logos), de forma ordenada e ao longo de um período de transição, onde a Filosofia usa-se aos poucos dos mitos para explicar a realidade e fazer relações plausíveis com a racionalidade, até o abandono completo deste tipo de saber, prevalecendo apenas o saber de cunho racional. O que fundamenta esse processo de passagem é o fato de que “a força da mensagem dos mitos reside, portanto, na capacidade que eles têm de sensibilizar estruturas profundas, inconscientes, do psiquismo humano [...]” (COTRIM, 2006, p. 67). De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da Filosofia é conhecida como período pré-socrático (623-546 a.C. a 468-399 a.C.).
A primeira preocupação elaborada e trabalhada pela Filosofia Ocidental é de ordem cosmológica, por isso, os primeiros filósofos são conhecidos como naturalistas.


Qual é o princípio?
Como dele derivam as coisas
MONISTAS (há um princípio que se encontra ou deduz da natureza)
TALES DE MILETO
É a água

ANAXIMANDRO DE MILETO
É o ápeiron
Por separação dos contrários por uma espécie de injustiça
ANAXÍMENES DE MILETO
É o ar infinito
Por condensação e rarefação
HERÁCLITO DE ÉFESO (Tudo flui; o ser não é mais do que vir-a-ser)
É o fogo-lógos-natureza, símbolo do devir de todas as coisas e da razão-harmonia que governa seus movimentos
Por oposição, nos particulares, segundo harmonia no todo
PITAGÓRICOS
É o número e os elementos do número (=limite/ilimite)
Segundo relações harmônico-matemáticas no todo e nas partes
XENÓFANES DE COLÓFON
É a terra (mas só para o mundo)

ELEATAS
PARMÊNIDES (O ente é; pois é ser e nada não é)
O ser é o princípio e fora do princípio nada existe
A rigor não existe nenhum principiado (= acosmismo), enquanto o devir testemunhado pelos sentidos não existe
ZENÃO DE ELÉIA
MELISSO DE SAMOS
PLURALISTAS (há muitos princípios semelhantes ao ser eleático)
EMPÉDOCLES
Os quatro elementos: ar, água, terra e fogo
Por efeito do Amor e do Ódio

ANÁXAGORAS
As “raízes” ou homeometrias
Por efeito do movimento impresso pelo Nous
LEUCIPO (atomista)
Os átomos
Por efeito do movimento do qual os átomos estão naturalmente dotados
DEMÓCRITO (atomista)
FÍSICOS ECLÉTICOS (o princípio é o único e deduzido da natureza)
DIÓGENES DE APOLÕNIA
É o ar infinito e inteligente
Por causas finais
ARQUELEU DE ATENAS

Após o desenvolvimento dos pré-socráticos, que buscavam explicações racionais para o universo, inicia-se o processo de interesse pelo homem e suas relações políticas (homem e sociedade), essa nova fase é marcada inicialmente pelos sofistas (palavra que significa sábio, porém em detrimento da ação destes tornou-se um termo pejorativo). Estes eram professores e tinham como objetivo o desenvolvimento da argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Tinham como proposta transmitir todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas.
Por assim dizer, os sofistas deslocam o interesse da Filosofia da natureza para o homem, instaurando um novo clima cultural criticando ideias conceituais como a verdade e o bem. Eles consideram a virtude como objeto de ensino, apresentando-se como mestres da virtude. Pode-se dizer que eles são o sintoma de uma aristocracia em crise e da ascensão política de novas classes. O importante é o fato de que os sofistas promovem a mudança de paradigma: do cosmológico para o antropológico.
Nesse plano surge Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.) que nada deixa escrito, mas sua grande contribuição para a Filosofia o torna um marco para toda a História da Filosofia que o concebe como um divisor de águas. Sócrates procurava conversar com todos, velhos ou moços, nobres ou escravos, buscando fomentar o encontro com o saber em seu interlocutor. O procedimento adotado por Sócrates está “sentado”, por assim dizer, na maiêutica que procura fazer emergir da capacidade racional do ser humano o conhecimento, o saber propriamente dito. O processo de Sócrates é conhecido da seguinte forma: ele faz o interlocutor apresentar toda sua argumentação e a partir daí começa a questioná-lo, a “pergunta” insere-se como mecanismo desmistificador, de forma “irônica”, levando seu interlocutor a perceber a falha de arguição e consistência que possui. E começa a fomentar o seu interlocutor a produzir um conhecimento sobre dado conceito, levando-o ao exercício do pensar e construir saberes. Os principais temas abordados por Sócrates em sua interlocução estão fundados sobre a questão moral (a justiça, a liberdade, etc.). O processo maiêutico procura libertar a alma humana de preconceitos teoréticos, libertando-a da ignorância. Para Sócrates a palavra é o que dá sentido e significado a algo, por meio de um conceito. Vale lembrar que este posicionamento questionador de Sócrates, levou-o até o cálice de cicuta, pois foi acusado de corromper a juventude.
A seguir de Sócrates tem Platão (428 a.C. – 347 a.C.), seu discípulo que continua o trabalho de seu mestre, e sua principal contribuição a História da Filosofia é ter construído um dos primeiros sistemas filosóficos que busca explicar o fenômeno do conhecimento. Porém a finalidade do conhecimento está em voltar à prática e orientar a ação moral dos indivíduos. O dualismo é a característica predominante do pensamento platônico. Existem dois mundos: um inteligível (mundo das Ideias – essências eternas, divinas, imutáveis das coisas) e o sensível (produzido pelo Demiurgo, o artífice soberano, plasmando a matéria informe à imagem das Ideias). Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas. Ao contrário das coisas deste mundo, cópias das Ideias, na alma humana reaviva-se a lembrança das Ideias que haviam sido contempladas numa vida anterior (mito da caverna).
Também a concepção política de Platão é ideal e fundamenta-se na divisão das tarefas e dos trabalhos entre as classes de trabalhadores, guerreiros e magistrados, que correspondem às almas concupiscíveis, irascíveis e racionais do indivíduo. Pela harmonia entre as três classes, nasce o alcance do Bem, do Justo e do Verdadeiro.
A seguir de Platão tem-se a elaboração de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) que propõe uma visão de mundo um pouco diversa da de Platão, concebendo o mundo como um sínolo (junção de matéria e forma). Aristóteles foi o primeiro a elaborar um sistema completo de lógica. Opondo-se ao idealismo platônico, demonstrou que as ideias não podem existir separadas das coisas, mas são nelas imanentes. E a relação entre coisa e ideia altera-se em relação de matéria e forma: a primeira é potencia pura; a segunda, determinação em ato.
A realidade é unidade de matéria e forma. O devir das coisas procede do transito da potencia ao ato. Somente Deus é Ato puro, único, eterno. O homem, como todos os seres, é constituído de matéria e forma: a matéria é o corpo; a forma, a alma, que é dotada de três funções: vegetativa, sensitiva e intelectiva. Segundo Aristóteles, a felicidade do homem consiste na atividade da razão por meio do exercício das virtudes dianoéticas, ou do intelecto, e as virtudes morais.

REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus, 1980.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

ENCONTRO I – Homo intelligibilis - Elaborado a partir do Estágio Supervisionado I

A humanidade é caracterizada pela constante necessidade em compreender a si e a realidade em que a mesma está inserida, por isso, surgem diversas ciências a fim de explicar a realidade, considerando desde o ser humano até suas construções. A pergunta motivadora, por assim dizer, da busca humana pelo saber está fundamentada em três perguntas básicas: “De onde vim? Quem sou? Para onde vou?” Fruto destas três questões se tem toda uma História do pensamento humano em busca de suas possíveis explicações.

Isso diz respeito diretamente à capacidade humana de saber algo sobre si e o mundo. Que por sua vez , corresponde com a dimensão racional do ser humano, que por meio do pensamento estrutura meios de compreensão, instrumentos que lhe possibilitem “conhecer”. O ato de conhecer é desenvolvido pelos indivíduos em sociedade, o qual depende de eventos humanos, ocorrendo dentro de uma consecução de fatos históricos, o “devir”. Por isso, a ciência é concebida como o meio natural dos seres humanos compreenderem a realidade histórica. É também tida como algo natural, por ser consequência do raciocínio elaborado pela razão que é inata à espécie humana. É preciso formular aqui que a ciência só é configurada e considerada como tal, quando a mesma for construída por meio do rigor lógico e universalmente aceita, o que configura a “verdade”. Vale lembrar que a verdade nem sempre está presente nas construções da ciência, pois muitas elaborações científicas não correspondem ao rigor lógico, quando estão ligadas ao interesse de algum grupo.

Quanto ao conhecimento tem-se que ele pode ser dividido de acordo como é formulado. O conhecimento “surge do ato de encontro objeto-sujeito’ culminando no desenvolvimento de uma ideia. A forma como ele se procederá depende do ponto de vista de quem conhece, podendo abordar a partir de uma experiência observada ou elaborada, para chegar à construção da ideia, ou abordar a partir de uma ideia, ou conceito a compreensão de uma dada realidade.  Ex: experimentos de novas fórmulas medicamentosas e/ou compreensão de uma fenômeno social a partir de uma leitura crítica da sociedade, respectivamente.

Existem 4 tipos de conhecimento: EMPÍRICO (construído pelo saber coletivo, das tradições ou mesmo de uma religião), CIENTÍFICO (construído pela experiência metodicamente orientada proporcionando segurança, controle e sistematização eficiente), FILOSÓFICO (origina-se do raciocínio, procurando suprir a lacuna da ciência na explicação do universo) e TEOLÓGICO (desvelamento do mistério; relativo a Deus, revelado e aceito pela fé). É importante situar aqui que o conhecimento pode ser dito possuidor de graus sendo estes dóxa (convicções individuais) e epistéme (conhecimento obtido pelo método científico).

É preciso ter claro que a primeira forma de conhecimento dito cientifico, e elaborado pela humanidade é de cunho racional apenas, fruto do desenvolvimento da Filosofia. Quanto a isso, a Filosofia é uma forma de conhecimento preocupada em estabelecer não só a compreensão da realidade e do indivíduo, mas também a compreensão das formas como se procede o conhecimento humano. A Filosofia é a busca de compreensão do próprio ato de conhecer, por assim dizer é: “o conhecimento do conhecimento”.  Só para relembrar a Filosofia em seu sentido etimológico é “amor ao saber – amor à razão”.

Contudo, dentro da Filosofia tem-se algumas áreas temáticas: Lógica (lógica – leis do raciocínio), Filosofia especulativa (cosmologia – o mundo e o universo, psicologia – homem, gnosiologia – conhecimento, ontologia – o ser, a existência, teodiceia – existência e natureza de Deus), Filosofia prática (estética – o belo e as artes, moral – a ação humana). Assim sendo, a Filosofia, por assim dizer, é aquela área do conhecimento que se dedica a diversas discussões produzindo a potencialidade de transversalidade nas discussões. O conhecimento é construído pelo indivíduo em sua relação com o objeto, e é a transformação de objetos observáveis (que podem ser materiais ou abstratos) em conceitos (ou ideias, puramente racionais).