Pensar a questão do ensino na contemporaneidade é convite a pensar a construção de espaços de formação, que preparem os indivíduos envoltos pelo processo escolar em sua inserção social. Aqui se deve entender que a sociedade contemporânea, antes de tudo, exige dos indivíduos que a compõe, uma postura de corresponsabilidade pela estrutura que esta compõe. Assim sendo, é compreensível o dado de que muitos dizem ser a sociedade constituída por indivíduos onde cada um possui um papel, sua parcela de responsabilidade com a manutenção social. Desse modo, a escola surge como ambiente de formação de indivíduos para a sociedade.
A instituição-escola, nos países industrializados e socialmente mais avançados, caracterizou-se por um papel social cada vez mais central e por uma organização cada vez mais aberta, cada vez mais capaz de colocar-se em sintonia com uma sociedade em transformação através da prática das “reformas” [...] (CAMBI, 1999, p. 625).
O que é necessário, portanto, para a educação contemporânea senão refletir o papel da escola e das disciplinas que compõe seus currículos? Possibilitar um estudo sério, e que esteja interessado na formação dos indivíduos imersos no processo de ensino-aprendizagem, é o compromisso primeiro e último da educação. É importante também salientar que a educação não é meramente o exercício de fazer acontecer uma aula, em sala de aula, por um período determinado por leis. A educação vai muito além da aula, incluindo em si uma formação continuada dos indivíduos no seu cotidiano.
Por educação nós vamos designar o processo ligado à etimologia da própria palavra. Educação é a palavra que vem do latim, de duas outras: e ou ex, que significa de dentro de, para fora; e ducere, que significa tirar, levar. Educação significa, pois, o processo de tirar de dentro duma pessoa, ou levar para fora duma pessoa, alguma coisa que já está dentro, presente na pessoa [...] (GUARESCHI, 2007, p. 100).
A Filosofia se insere no contexto escolar atendendo essa demanda que a educação exige: preparar o indivíduo para sua ação no meio social. O problema que aí se insere, está diretamente relacionado com as possibilidades encaradas pela disciplina nos currículos escolares. Essas possibilidades não configuram problemas, nem dificuldades à Filosofia, mas sim um pré-conceito que advém da carga histórica que a mesma possui, quando se fala na questão de resolução de problemas cotidianos. Tal disciplina é encarada como o “messias” da educação, e cabe a ela o papel de “salvar” toda a escola do “caos”, prenunciado pela fragmentação e estagnação do ensino, tanto em áreas do conhecimento como nas disciplinas, que focam seus estudos e discussões naquilo que apenas lhes interessam.
Atualmente o ensino vem encarando o desafio de criar e possibilitar estratégias para a interrelação entre os diversos saberes e conhecimentos, articulando-os como parte de um todo fragmentário, onde cada uma trata de uma saber específico. Isso caracteriza a tendência de falar da união do diverso e separado. Soa redundante e pleonástico, porém é uma realidade que vem sendo encarada, fruto de uma educação que prima pela especialização. A Filosofia vem encarando a tarefa de ser aquela que irá “tentar”, trabalhar a possibilidade de unir as diferentes formas de saber, a fim de criar o conhecimento da realidade que está dada.
Porém, o desafio que desponta já no amanhecer do século XXI para a Filosofia, trata-se de ser aquela que produz um conhecimento transversal, diferindo das tentativas multi e interdisciplinares. O projeto da inserção da Filosofia na educação é fomentar a construção de uma espaço onde os que são envolvidos pelo processo de ensino-aprendizagem, busquem sua formação de forma integral e autônoma. Esta é a grande contribuição que a Filosofia pode dar à estrutura escolar, fomentando a construção de espaços onde o conhecimento produzido esteja interligado com as diversas áreas do conhecimento, e contendo em si o dado da transformação social do conhecimento.
Além de favorecer a integração das várias áreas de conhecimento, a Filosofia pode dar uma contribuição específica para esse novo ensino médio, na medida em que seu papel no desenvolvimento da autonomia, da capacidade crítica e na formação ética está ligado diretamente à sua natureza argumentativa e à sua tradição histórica. Cabe à Filosofia a capacidade de análise, de reconstrução racional e de crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de textos e argumentos propostos de qualquer tipo e emitir juízos acerca deles é um pressuposto indispensável para o exercício da cidadania [...] (SEC/RS, 2010, p. 117).
A Filosofia deve se tornar aquele espaço de construção do conhecimento crítico sobre a realidade social em que o indivíduo está inserido, contribuindo na construção do caráter humanitário do mesmo. Pode-se dizer de passagem que o próprio ser humano depende do tornar-se humano para sair do conceito de indivíduo, apenas, e tornar-se pessoa, que significa não pertencer apenas à espécie humana, mas também ter características de humano, sendo as principais a autoconsciência e a capacidade crítica.
No decorrer da História é possível encontrar a Filosofia sendo um instrumento que auxilia o ser humano na sua construção da realidade e de si mesmo.
“É importante dizer que a trajetória histórica da Filosofia criou um conjunto de significados que procuram interpretá-la, compreendê-la, fundamentá-la, justificá-la como horizonte apropriado para a construção de sentidos tanto para si própria quanto para a ciência e para a atribuição de um propósito a existência humana no mundo [...]” (GHEDIN, 2008, p. 36).
Assim, a Filosofia é aquele momento do ensino onde tanto alunos como professores são convocados a fazer e ser a diferença no processo educacional. Transcendendo a simples aula de Filosofia, que se preocupa com estudos de temas relacionados com a realidade, e indo a busca da compreensão do próprio sentido de “Ser” pessoa e realidade na existência cotidiana. Isto é possível quando o espaço tornar-se propício a construção da experiência do filosofar autônoma e criticamente.