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Filósofo: Aprenda da Coruja!

Filósofo: Aprenda da Coruja!
Filosofar é alçar voo sobre a realidade e contemplá-la!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A experiência do filosofar na prática docente


“O filosofar como atividade reflexiva própria da Filosofia, procura o ser esparramado na teia do cotidiano [...] perdido em nichos que pouco podem expressar a humanidade em sua totalidade [...]”
Eduardo Ghedin

Um dos principais problemas enfrentado pelos professores da disciplina de Filosofia é justamente relacionado com a perspectiva metodológica a ser adotada em sala de aula, pois primordialmente “[...] somos levados a pensar que a primeira questão a ser avaliada, quando se trata do ensino, está mais relacionada com o conteúdo a ser ensinado do que com a metodologia que lhe imprimiria ritmo [...]” (GHEDIN, 2008, p. 37). 

Assim sendo, é necessário pensar a tarefa do professor de filosofia fundamentada no despertar o aluno para a reflexão filosófica, buscando alargar os horizontes do saber pensar a fim de conseguir posicionar-se frente um contexto que se apresenta com dificuldades para sobreviver. Contudo é um problema intrínseco pensar sobre a questão do que deve ser ensinado numa aula de Filosofia a fim de constituir esse despertar para a reflexão filosófica.

O despertar para a reflexão filosófica parece um desafio emergente a questão da própria compreensão de mundo que se possui no atual momento histórico, pois “o homem moderno, de tanto se servir da máquina, passou a refletir o humano pelo mecânico. E assim se criou uma certa mentalidade mecanicista, pragmática, ativista, que colocou de quarentena o contemplativo [...]” (MENDONÇA, 1996, p. 21). O homem não pode pensar a realidade que o envolve apenas numa perspectiva reduzida e fechada em aspecto limitados e enclausurados, como é o que vem ocorrendo com as tendências de tentar dar um rumo de especificidade ao conhecimento humano, a própria construção do conhecimento pela ciência.

Atualmente presencia-se uma crescente demanda em “ser bom no que se sabe fazer”, e muitas vezes encontram-se escolas singrando por este caminho, onde a educação torna-se um mero instrumento de politização e desenvolvimento de competências a fim de suprir necessidades do mercado de trabalho. É justamente o que Mendonça procura salientar em sua obra “O mundo precisa de Filosofia”, e, como colocado acima o mundo está caindo cada vez mais em uma mentalidade mecanicista onde é adotada uma perspectiva de fragmentação da totalidade, a fim de compreender a mesma tal como ela é. A filosofia vem prenunciando uma nova perspectiva onde se busque a compreensão da realidade como um todo, firmada no fundamento de humanizar o ser humano como Ser. E a educação, juntamente com a ciência, a política e a Filosofia, num esforço conjunto tem como função primordial levar as pessoas pelo caminho da sua própria humanização (GHEDIN, 2008).

É interessante ater-se aqui ao fato de que o próprio Ser Humano não pode dissociar-se do seu Ser Filósofo, pois o ser humano é naturalmente curioso e perspicaz, buscando constantemente superar-se no que conhece. Por isso diz-se que:

“Filosofar é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar, numa busca constante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado. É uma espécie de entrega interpretativa que teoriza a prática e pratica a teorização como possibilidade de compreensão e superação dos limites de nosso ser, lançado no horizonte de sentido.” (GHEDIN, 2008, p. 57).

As pessoas sempre buscam um sentido para as coisas devido a sua curiosidade, e, quase sempre os encontram e dando sempre um novo significado a realidade que os cerca. Mas isso não é comum entre todas as pessoas, pois existem aquelas que veem em tudo certo marasmo e estagnação e não conseguem ir à busca do sentido das coisas que as rodeiam, nunca vendo problema algum em usar soluções prontas para a resolução de situações cotidianas. “[...] Podemos entender a atitude filosófica, portanto, como a disposição de sempre estar aberto ao novo, de nunca se acomodar, de nunca se satisfazer plenamente com uma resposta dada [...]” (BOUFLEUER, 2005, p. 149).

Pois bem, até o momento tentou-se apresentar aspectos que muitas vezes são comuns a todo aquele que busca dizer o sentido do ato de filosofar. Porém o que se pode dizer da inferência do filosofar na prática docente? Aqui dar-se-á uma breve resposta ainda limitada, porém muito ampla em seu contínuo desenvolvimento. Devem considerar o fato de que o problema não é apenas metodológico, pois, para ensinar a filosofar não basta apenas o método, e, muito menos, apenas o conteúdo, é necessário trabalhar com os dois. Assim, “[...] se a vivência do aluno deve estar no horizonte das discussões (seja no ponto de partida, no ponto de chegada ou de passagem), convém não se esquecer de que o projeto de aula é, e não pode deixar de ser, o debate filosófico, com exigências de rigor e disciplina intelectual [...]” (ARANHA, 2000, p. 120-1).

A discussão, ou debate de ideias não deve ser algo reduzido a apenas confronto de opiniões, estas por sua vez devem ser fundamentadas em embasamentos teóricos sólidos que possibilitem a cientificidade e não falibilidade das ditas ideias. Por isso, para que a construção da experiência do filosofar siga um caminho sadio se faz necessário construir uma Historia da Filosofia entre professor e aluno, onde ambos reconheçam na dita tradição filosófica, um exemplo de construção do processo filosófico. De certa forma pode-se dizer que aprendemos filosofia fazendo História da Filosofia, que é compreender a Filosofia e sua construção histórica. O desafio que cabe agora ao professor é saber trabalhar com a tradição filosófica e conseguir traduzir os ensinamentos que dela advém a atual sociedade a fim de na contemporaneidade conseguir construir um espaço para a Filosofia.

“[...] A realidade questiona-nos, exigindo um diálogo com os autores e com o real como caminho que se faz busca de compreensão do que somos. O dialogo exige, ao mesmo tempo, abertura ao ser e aos entes. Dialogar com os autores exige uma postura crítica no confronto entre o contexto deles e o nosso” (GHEDIN, 2008, p. 46).

Mas de nada adiantaria construir um espaço para a Filosofia se neste ambiente não se tivesse lugar a criatividade e a imaginação próprias do ser humano. “O filosofar tem uma dimensão extremamente criativa, pois não se configura apenas como pensamento do já pensado, mas apresenta-se como espaço de criação e ampliação da interpretação do mundo, das ideias, das práticas, das teorias, dos fenômenos, da existência e de sua extensão [...]” (idem, p. 48).

Posto isso, percebe-se a necessidade de fechar dizendo que há a necessidade de compreender a atitude dita filosófica como desafiadora e muito atraente, principalmente porque esta torna o ser humano preso à vontade de conhecer mais, sempre. Desafia quando diz que não se pode ensinar a filosofar sem conteúdo, e muito menos sem método. A experiência do filosofar na prática docente é uma construção permeada pela necessidade de contemplar a vida cotidiana e a complexidade de relações que existem na realidade, a fim de humanizar o Ser Humano.

REFERENCIAS:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia no Ensino Médio: relato de uma experiência. In: Filosofia no Ensino Médio. V. 6. p. 112-128. Petrópolis: Vozes, 2000.

BOUFLEUER, José Pedro. Formação de professores para o ensino de filosofia. In: Filosofia e educação: confluências. p. 147-154. Santa Maria: FACOS, UFSM, 2005.

GHEDIN, Eduardo. Ensino de Filosofia no Ensino Médio. São Paulo: Cortez, 2008.

MENDONÇA, Eduardo Prado de. O mundo precisa de filosofia. 11 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

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